sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aquela que não se pode descrever.

Família. Por muito tempo pensei no significado dessa palavra. Mas quanto mais penso maior é a minha certeza de que a única palavra que pode definir uma ou qualquer família é: indescritível. Hoje, mais do que nunca, que qualquer outra época, lugar, realidade, encontramos as mais diferentes famílias. Desde aquelas ditas “tradicionais” até as novas “modernas”. Independentemente da sua constituição, seja ela formada apenas por pessoas que nós escolhemos, como a família de amigos com a qual somos presenteados ao longo de muitos e muitos anos, ou aquela onde escolhemos apenas alguns dos seus membros e os outros estão inevitavelmente amarrados pelo que chamamos “laços consangüíneos”. Lembro-me bem de quando era bem pequena e sempre que pensava na minha família o único sinônimo que surgia era perfeição. Porque nada mais no mundo me fazia sentir tão completa, tão plenamente feliz. Porém eu estava enganada. Com a idade vieram as imperfeições. Momentos em que cheguei a pensar que esses laços tinham sido desfeitos. Momentos como aqueles em que você escuta do melhor amigo que ele não pode ir com você àquela festa porque já marcou com a namorada nova de sair, e que você chora horrores achando que é o fim da amizade. Isso até no próximo dia, quando ele te liga contando da noite, querendo compartilhar cada detalhe e vocês riem como nunca. Ali tudo passou, não importa o quão turbulenta seja a relação entre os membros de uma família, por quantos momentos fáceis ou difíceis passamos. Por quantas vezes culpamos todos os outros pelos nossos fracassos, os responsabilizamos por, teoricamente, não termos chegado onde deveríamos. Ou por simplesmente terem curtido aquele cinema sexta-feira à noite enquanto você precisou ficar em casa estudando pra uma prova. No final, naquele momento em que você vê algum de nós conquistando algo que sonhou por muito tempo, ou nem sequer imaginava, se divertindo pra valer com uma brincadeira que nem teve graça, quando você se junta a ele pra falar mal daquele parente chato, pra traçar novas metas quando percebe que se perdeu das suas. E, principalmente pra se encher da coragem do outro, encarar aquela lagartixa que, na sua cabeça mais parece um dragão, e assumir para todos, gritando em altos brados “eu sou mesmo uma cientista social, a minha família pode nem saber o que isso significa, mas ela me apóia. E é isso o que importa para mim”. É ai, nesse momento, onde descobrimos realmente quem somos e podemos nos aceitar exatamente assim, é que encontramos nosso lugar no mundo. Pois temos a segurança, a certeza de que não interessa mais se o mundo não nos permite, não nos providencia um lugar especial nele. Porque o único lugar no qual nos encaixamos perfeitamente, independentemente da forma de cada um, é na nossa família. E aí, quem se importa se não conheceu todos os países do mundo, se não tem o melhor emprego, o melhor corpo e três mestrados. Se formos PHD na matéria mais difícil que existe: aquela que não se pode descrever.