sábado, 22 de janeiro de 2011

"Com a combinação certa de paixão, coragem e manteiga, tudo é possível" (Julie & Julia, filme)

Foi nesses dias, mais precisamente no Natal, depois da ceia, naquele momento onde você não aguenta comer nem mais o açúcar com canela da rabanada, quando a pilha de louça suja parece ter ganhado proporções de desenho animado e tudo o que você consegue fazer é pensar em como a sua cama estará quente e em se jogar nela num sonho alucinado com papai noeis, renas do nariz vermelho e homenzinhos verdes da orelha pontuda (ou será que o chapéu que é verde e pontudo? Tanto faz), na esperança dele se tornar realidade e você acordar com uma pilha de presentes no pé da sua cama (ainda que saiba que a sua casa não tem lareira para o Pai Natal, no caso do velhinho ser português, descer). Que, ao invés de nos deixarmos tomar por esse intenso desejo, resolvemos entrar no espírito do Natal e voltar, mesmo que por ínfimos minutos, a ser criança. Não, não tiramos as nossas bonecas dos seus esconderijos secretos, também não fizemos guerra de travesseiro e nem saímos pela casa gritando e quebrando todos os pertences mais preciosos da mamãe. Apenas acessamos a internet, abrimos um site ai meio famoso e começamos a assistir aqueles filminhos (que pessoas que não tem mais nada para fazer passam horas e mais horas editando, pelo menos é o que eu acho). Sabem aqueles que são repletos de musiquinhas e fotos de tudo o que você mais gostava quando era criança, tudo aquilo que faz você dizer que no seu tempo as coisas eram realmente boas, de verdade mesmo... A ponto de pensar que, quem sabe, se elas ainda existissem, se ainda fizessem parte do seu cotidiano, sua vida hoje seria tão feliz, fácil e fantástica como era quando a sua maior preocupação era o sabor do chá que você ia servir para os seus ursinhos ou qual a desculpa que inventaria a fim de cabular o próximo banho. E ficamos nessa, cantando, dançando, tentando nos lembrar dos nomes daqueles desenhos realmente desenhados, nos espantando com como o tempo passou e como podemos ter esquecido ("cara, olha, o Pink e o Floyd! Adorava quando ele falava 'vamos fazer o que fazemos todas as noites, tentar dominar o mundo'"). Até que aquele cara pequenininho do chapéu pontudo e a orelha verde nos levou para a cama.
Depois dessa noite não tinha voltado a pensar nessas criancisses até hoje. Todas as vezes que alguém me falava, em uma situação de não-natal, aquela célebre frase "porque na minha época", eu tentava justificar argumentando que tudo evolui, e, portanto, os desenhos e as criancisses devem acompanhar essa evolução. Mas hoje não, hoje vi algo que não posso, nem quero, justificar como sendo evolução, pois para mim é um retrocesso dos mais atrasados. Não está entendendo? Vou explicar. Estava eu hoje, na maior preguiça de um sábado de manhã assistindo televisão portuguesa, quando começam os comerciais. Até ai tudo bem, eu naquela sonolência, mal prestando atenção, quando ouço a seguinte frase "Ninguém resiste a um pão com a nova Planta. Novo creme vegetal sabor manteiga. Porque resistir?" Para os que não sabem, a margarina Doriana do Brasil aqui chama Planta. Mas é isso mesmo! É o fim do mundo! Ou, plagiando o Felipe Neto, margarina com gosto de manteiga não faz sentido! Eu juro que posso entender e até tentar justificar aqueles que tentam enfiar goela abaixo das crianças esses desenhos sem sentido de hoje, os brinquedos cada dia mais ultragaláticos, ignorarem a pobre da vaca e falarem que o leite que "nasce" já dentro da caixinha (desde que não escreva sabor vaca na frente) e o fato de a nova geração praticamente saber digitar e navegar na internet antes mesmo de falar gugudadá. E que tento me adaptar a isso fazendo de conta que realmente sei o que é um Bakugan (para aqueles que não sabem é só googar que descobre). Mas para mim essa tal margarina sabor manteiga já é um pouco demais, para não dizer a gota d'água. Quer dizer, a diferença entre manteiga e margarina é muito mais que o gosto, é textura, naturalidade contra artificialidade (se é que essa palavra existe)! Resumindo para não ser chata, a diferença entre manteiga e margarina é simples: uma derrete se você deixar fora da geladeira, a outra fica igual pro resto da vida.
Porque resistir? Porque o próximo passo que vejo depois de margarina sabor manteiga é o dia no qual poderemos enfim dizer às crianças "meu filho, não esqueça de deixar o leite sabor vaca e o biscoito de chocobrócolis com bastante margarina sabor manteiga tudo light pro Papai Noel na porta, porque você sabe, como agora ele só chega pela escada para deixar os presentes, ele está magrinho, magrinho, bem light... Ah, e coloca um pouco mais porque aqueles caras do chapéu chato e orelha azul vem também" (ou seria orelha chata e chapéu azul?).







PS: deixo aqui o link com o vídeo da propaganda para os que não acreditaram (eu peço desculpas por ter chocado vocês dessa forma, mas é a realidade) e uma foto, pode ser doloroso olhar para isso, mas após uma pesquisa descobri que a marca Becel também aderiu a moda da margarina sabor manteiga.











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